quinta-feira, 3 de março de 2016

40 anos

Creio que foi anteontem que uma figura muito bem conhecida na minha vida, um karma maldito que eu vou ter que carregar pelo resto da minha vida (ou da dele), se escondendo sob anonimato me lançou "ofensas" me chamando de velha. Bom. Eu não vou falar da situação física dele, que está deplorável. Aliás, vou falar um pouco sim: ossos frágeis, que se quebram facilmente, careca, gordo, cheio de rugas e com ejaculação precoce de longa data, não tratada. E esses males parece que são comuns em homens da mesma profissão que a dele. Profissão ingrata que acaba com as pessoas que a escolhem por vocação.
Mas, independente disso, vou falar dos 40 anos. Aos 38 eu já não via a hora de ter 40. Verdade! Eu sentia que os 40 trariam grandes mudanças na minha vida e, na verdade, essas mudanças já estavam acontecendo. Aumentaram os cabelos brancos, mas nada alarmante, finas linhas de expressão surgiram, e ainda bem que ainda são finas. Mas eu não as preciso esconder com quilos de maquiagem, pelo contrário, uso menos maquiagem do que antes. Agora acho que o menos é mais! Não sou gorda nem magra. Aliás, para as magras sou gorda, para as gordas, sou magra. Então, está bom assim. Estou feliz com meu rosto e com o meu corpo.

Sexualmente, minha vida também está melhor, mais desinibida, mais solta, mais à vontade, mais sem vergonha...

Eu, fumante, aos 40 anos, aguento correr mais que meu filho de 12 anos, que joga futebol e muito bem, que é mais magro do que eu, que tem a minha altura, aguento fazer massagem cardíaca em pacientes por mais de uma hora, enquanto os jovens residentes não aguentam 5 minutos. Não troco a minha disposição física pela de nenhuma mocinha de 20.

Ninguém me faz de boba, e, quando tenta, eu descubro e me vingo, não deixo barato, ninguém me engana mais. Hoje, sem a inocência da juventude, eu tenho resposta pra tudo, não há calúnia, indireta, ofensa que passe sem uma boa, rápida e implacável resposta. Aos 40, você enxerga melhor as coisas, pensa mais rápido, encontra melhores respostas e soluções. É vivência, maturidade.

Os conhecimentos também aumentaram, diversos cursos que me aprimoraram na profissão, outros cursos que fiz por vontade, como Educação Sexual, alguns outros também na área de psicologia.  A idade trouxe maior desenvoltura e maior saber.
E esse saber traz mais tranquilidade para trabalhar, para lidar com pessoas doentes, doentes graves, o que não é nada fácil. Tranquilidade para lidar com o estresse, com as dificuldades, com a falta de educação de outras pessoas, com a falta de conhecimentos de quem está começando agora.

Lembro da primeira vez que um jovem residente me chamou de Senhora... quase caí da cadeira de susto! Todos sabem que eu sou brincalhona e boca suja e ele não levou a mal quando respondi: "Senhora é teu cú!"
Na época eu nem tinha ainda 40 anos. Hoje eu faço questão que esses jovens residentes me tratem por senhora. Ainda mais os que chegam cheios de arrogância, achando que sabem tudo, quando na verdade estão completamente crus. E sim, eles aprendem muito com os enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem, embora jamais admitam isso.

Há um médico das antigas que de zoeira me chama de senhora. E a jovem babá de meus filhos também, de brincadeira me chama de idosa. E eu não ligo, eu brinco:
Velha é teu cú!


Eu lido bem com essas brincadeiras, porque sei que são brincadeiras. 
Mas quando não são brincadeiras, quem pensa que está me ofendendo, está perdendo tempo. Pois a idade chega para todos, as rugas, os cabelos brancos, as pelancas... A beleza vai embora e o máximo de elogio que você vai conseguir vai ser: "Velinho (a) fofinho (a)".
E isso é para todo mundo que conseguir chegar à velhice sem morrer antes.

Na postagem que publiquei em 23 de fevereiro de 2016: Chega de hipertrofiar os músculos e atrofiar o cérebro, eu falo da importância de se escutar generosamente os mais velhos. Os jovens de hoje estão tão arrogantes, tão cheios de si, tão cheios da beleza eterna, tão cheios de um falso saber, tão cheios de uma falsa razão, coisas inerentes dos adolescentes (tenho dois filhos pré adolescentes), mas hoje, uma arrogância muito maior do que na minha época de juventude. Eu podia discordar dos mais velhos, mas eu os escutava calada e com respeito. Só ganhei com isso.
Hoje tenho orgulho de ver a babá de meus filhos, uma jovem de 20 e poucos anos escutando as músicas da minha época, da época de meu pai e escutando atentamente as nossas histórias, uma raridade nos dias de hoje: uma moça que dá valor à sabedoria de seus pais e da nossa, já que mora no emprego. Ela tem consciência de que só ela ganha com isso.

Agora quando uma pessoa me xinga de velha, a minha resposta em pensamento, pois eu nem preciso responder em palavras, se resume no seguinte:





Eu pergunto a você, jovem, com que humor, com que disposição você vai chegar à inevitável velhice? Eu carrego comigo o bom humor, numa roda de conversa, eu faço as pessoas rirem, eu dou risadas e, apesar do meu temperamento, meus filhos me chamam carinhosamente de Miss Simpatia, pois não há lugar que eu chegue sem abrir um sorriso a dar um alto BOM DIA! Pois um bom dia (boa tarde, boa noite) tem que ser alto, não sussurrado, tem que ser de um jeito que as pessoas percebam que você deseja a elas verdadeiramente um bom dia. Um bom dia entre os dentes não deve nem ser dado! Eu chamo meus colegas de trabalho de gatinhos e gatinhas, isso eleva o astral... E eu puxo assunto com estranhos na rua. E quando estou dirigindo meu carro com as crianças e vejo gatinhos jovens e sarados correndo sem camisa, eu grito: "Cai pra dentro!", provocando risos dos meus filhos e dos gatinhos corredores! 
Como você vai chegar à velhice?
Eu vou chegar assim:


E foda-se quem achar ridículo! Atrevida, descolada, desbocada, bem humorada, pelo resto da vida!






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